sexta-feira, 9 de maio de 2008

O Tempo

Juliano Flávio


Às cinco e meia arrebentou a bolsa da mãe
Às seis acordou para a escola
Às sete fumou o primeiro trago
Às oito levou trabalho para a faculdade
Ao meio-dia saiu para o almoço de negócios
Às duas entrou com a noiva na igreja
Às três voltou da maternidade
Às quatro levou o filho ao médico
Às cinco sua mãe ao cemitério
Ao pensar guardar o tempo

Escorregou em suas mãos
Caiu no meio-fio
Esvaiu-se por boca-de-lobo
E seguiu.
Horas se foram
E parece que o dia iria acabar

Às seis o filho foi entregue em núpcias
Às sete sofreu um acidente e pensou que seria o fim

Não era

Às oito buscou o neto em jardim de infância
Às nove teve dúvidas se tinha almoçado
Às dez leu o jornal, não tinha nada mais a fazer
Às onze passou mal, acordou na enfermaria
Às doze recebeu a extrema-unção.

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, essa do tempo é demais!

Também tenho a impressão de contar minha vida pelas horas do dia... nesse caso, já é quase meio-dia! Preciso correr, ainda há muito o que fazer...

Juliano Flávio disse...

Valeu... ainda vou pensar melhor nesse poema. Estou procurando criar poemas cujos temas são substantivos.

Fabi disse...

Ju,essa tá d+!

Anônimo disse...

legal o blog, juliano!