quinta-feira, 12 de junho de 2008

A Rua

Juliano Flávio

Quanta falta me faz
a rua Antônio Dias.

Seu cheiro de flor africana
Sua inclinação forte
Seus sinos retintando

Quanto triste me faz
a rua Antônio Dias

Rua velha e enlodada,
sua árvore mais velha ainda
que tentaram derrubá-la
mas permaneceu doente e rígida
Tronco velho em raiz profunda

Por trás daquela rua
vários quintais e estórias
algumas de dor, outras de rir
outras apenas estórias:

Ao fundo um morcego morto
que caiu do telhado,
o gato o pega e a dona grita de pavor.

Meu pai pinta o bigode,
enquanto minha mãe toma seu banho
minha irmã puxa meu cabelo
E eu assistia a aquilo tudo, já me ardendo de saudade.

O ladrão que ontem pulava o muro do vizinho,
antes me trazia preocupação.
Hoje me traz nostalgia.

Hoje eu, superior,
Flutuo soberbo,
uso o Google Earth,
Quilômetros de distância dali,
Embora perto,
Não vejo mais
a rua Antônio Dias
e que falta me faz.

4 comentários:

Fabi disse...

Eu tenho saudade da minha ruazinha de infância! (fiz uma poesia sobre ela, a rua Francisco Hermenegildo, acho que já te mostrei). Gostei muito. Lembrei do Drummond ao lê-la.

Juliano Flávio disse...

Valeu, aquela sua poesia me inspirou também. Mas o que me levou a escrevê-la foi entrar no Google Earth. Depois você tenta. Bjos.

fernanda barreto disse...

juliano,
esta poesia é muito tocante.
linda.
leio ela pras pessoas que eu gosto.
um beijo.

Juliano Flávio disse...

Obrigado, Nanda.
Que bom que te tocou.
beijo.