quinta-feira, 26 de junho de 2008

A Saudade

Juliano Flávio

O avô, o pai que se foram
O tio que falecera
A mãe que um dia irá...
O cheiro da infância
O leite, o choro, a criança
Há sempre aquela lembrança.

Ai! Que saudade.
Mas como dói!

Outras, quando se acorda,
Há sempre aquela lembrança.
O dia transcorre
Carros e pessoas passam
Sinais, faturas, corredores
Há sempre aquela lembrança:
O beijo amado.
Quando se tem um momento,
Há sempre aquela lembrança.

Reflete a ausência presente em ti
Corrói e acaricia a alma
Mosaico de carinho,
Tristeza, fome e desejo.
Há sempre aquela lembrança.

Memória do dia anterior e do porvir.
Lembrar daquilo que fora
e daquilo que virá: estranho!

Ai! Que saudade.
Mas como é bom!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A Rua

Juliano Flávio

Quanta falta me faz
a rua Antônio Dias.

Seu cheiro de flor africana
Sua inclinação forte
Seus sinos retintando

Quanto triste me faz
a rua Antônio Dias

Rua velha e enlodada,
sua árvore mais velha ainda
que tentaram derrubá-la
mas permaneceu doente e rígida
Tronco velho em raiz profunda

Por trás daquela rua
vários quintais e estórias
algumas de dor, outras de rir
outras apenas estórias:

Ao fundo um morcego morto
que caiu do telhado,
o gato o pega e a dona grita de pavor.

Meu pai pinta o bigode,
enquanto minha mãe toma seu banho
minha irmã puxa meu cabelo
E eu assistia a aquilo tudo, já me ardendo de saudade.

O ladrão que ontem pulava o muro do vizinho,
antes me trazia preocupação.
Hoje me traz nostalgia.

Hoje eu, superior,
Flutuo soberbo,
uso o Google Earth,
Quilômetros de distância dali,
Embora perto,
Não vejo mais
a rua Antônio Dias
e que falta me faz.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O Ócio

Juliano Flávio

Às vezes me falta alguma inspiração,
acordo com dificuldade e tento levantar
há mesmo uma expectativa ruim
não há mesmo uma esperança.

Às vezes me dá vontade de me desfazer,
levanto em direção ao banho
há que se limpar para sofrer
E isso não é justo.

Às vezes me falta energia para pegar a condução.
Tento em vão sorrir,
ao cruzar pela primeira vez com as pessoas,
Aí sai um sorriso minguado, amarelo.

Às vezes chego no trabalho vazio,
Outras vezes, penso em ser antes atropelado.
Quem sabe assim me dispensam?
Quem sabe alguns dias no hospital?

Me lembro que também posso morrer
E há muita preguiça para isso.
Então caio da cama,
Mas vamos, pare de sonhar!
Você é desempregado.