domingo, 14 de março de 2021

As Asas do Desejo

 Em 89 assisti uma obra prima, As asas do desejo, um filme de Win Wenders. 

Dois anjos que pairam sobre Berlim e escutam os pensamentos das pessoas.

Filme que consigo rever hoje.

Pensamentos belíssimos, poesia no cinema.

A pessoa querida dormindo no quarto ao lado.

Um domingo de paz.

Frases soltas e complexas.

O mundo parece se reduzir a frangalhos.

Todos pensam calados, eu penso calado.

A todo momento, temos pensamentos sobre tudo.

Um homem velho recorda-se de uma loja de chocolates, a qual visitara antes do muro de Berlim.

Gabriel encontra uma trapezista e se apaixona.

Ainda existem fronteiras.

Cada rua tem sua divisão.

Cada casa tem seu limite.

Cada limite possui seus quartos.


Em 89 ao sair do Savassi Cineclube, chovia muito.

Não havia ninguém para comentar sobre o filme.

Era um outro tempo.

Era um tempo de insegurança e paixão.

O mundo se abria diante de mim.

Cada vez mais portas se abriam.

Cada qual com seu destino.

A novela que começou a se desenrolar poderia ter qualquer enredo.

Voltemos ao circo, à brincadeira, ao picadeiro.

As crianças conversam com os anjos naturalmente.

Quando a criança era uma criança, 

brincava com entusiasmo

e hoje apenas trabalha.

Quando a criança era uma criança,

O mundo era pequeno e infinito, 

Hoje apenas infinito.

Quando a criança era uma criança,

O sorriso se espalhava por todo o rosto

hoje se esconde atrás de uma pequeno gesto.

Quando a criança era uma criança,

A lua estava atrás da montanha,

hoje se encontra a 148 mil quilômetros da Terra.